Jeff Allen

Recentemente, enquanto trabalhava em meu quintal, uma canção veio aos meus fones de ouvido e que me levaram de volta a um passeio pela estrada da memória, por assim dizer. A canção, “Clocks”, de Coldplay, me fez parar e refletir sobre uma viagem de moto que fiz com um amigo de infância, há dois anos. Sim, eu sei que essa música e esta banda não são as primeiras que vêm à mente quando se pensa em andar de moto, mas eu me lembro desta música tocando na minha cabeça enquanto andava um longo e tranquilo trecho, ao lado do meu amigo. A melodia e a voz são quase hipnóticas, e foi o cenário perfeito para o estado de espírito em que eu me encontrava enquanto relaxávamos sobre o suavemente ondulado caminho. Fiquei ali, no meio do meu quintal, apoiado em meu rastelo com os olhos fechados, pilotando esse trecho de tirar o fôlego de novo em minha mente. Eu provavelmente até balançara, não pela música mas pela memória da dançante motocicleta abaixo de mim naquele trecho. Eu estava lá de novo, na minha cabeça e no meu coração. Um caso agudo de Wanderlust foi novamente brotando dentro de mim.

Há um estado espiritual e mental que longos quilômetros e horas em cima de uma moto podem trazer para um piloto. Um estado de paz, tranquilidade, relaxamento, foco, consciência e controle que um piloto conhece quando está em uma longa e tranquila estrada. Mihaly Csikszentmihalyi propôs o conceito de “fluxo”, um estado mental experimentado quando estamos totalmente imersos em uma atividade, quando um sentimento de foco completo, engajamento e satisfação é alcançado. Já ouvi este estado ser chamado de “moto-nirvana”, “zen”, e “o céu motociclístico” entre os motociclistas. Seja qual for o apelido, este estado de ser é algo que não é experimentado em muitos outros aspectos da vida. Uma longa viagem em uma “gaiola” de quatro rodas pode se tornar cansativa, monótona e até mesmo tediosa depois de horas a fio na estrada. No entanto, em uma moto, cada momento, cada quilômetro, cada sensação, pode trazer pura serenidade e harmonia. Como o falecido cantor / compositor Rich Mullins, uma vez compôs: “Deixe que o vento da estrada faça nós em nossos cabelos; deixe que a velocidade e a liberdade desembaracem nossas vidas.” Eu conheço esta sensação.

Jeff Allen

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Lembro-me também de me encontrar neste estado durante outra viagem. Estávamos indo para o oeste, ao anoitecer. Nós tínhamos a rodovia praticamente para nós mesmos, enquanto perseguíamos o sol em direção ao horizonte ocidental. Ao descer a trilha de um belo planalto, o sol pintava um caleidoscópio de cores no céu. Atrás de nós, a escuridão rastejava sobre os últimos resquícios de luz, uma lua quase cheia subia por trás de nossos ombros. Enquanto meu amigo ditava o ritmo à nossa frente, sua silhueta era emoldurada pelo sol poente, e caí nesse estado, quase como um transe. Eu rodei, eu cantei, eu orei, e encontrei uma quietude, eu estava completamente centrado. Era uma paz mística e mítica, com o sol no meu rosto, o vento soprando por meus ouvidos, minhas mãos segurando o guidão e o grande motor pulsando um forte ritmo abaixo de mim.

Muitas pessoas se perguntam por que nós rodamos. Será um anseio por aventura? Será que nós não crescemos? Será um mórbido desejo de morte? Muitas vezes nós, que rodamos, iremos simplesmente responder, que é “por causa da liberdade”. E eu, no entanto, quando me encontro nesse estado perfeito de viagem, aquele “ritmo místico”, simplesmente dizer que ando de moto por causa da liberdade, não chega nem perto do real sentido das minhas viagens. Eu sou viciado a esse estado mental. Eu sou facilmente levado a estes momentos – e tantos outros – frequentemente, em minha vida cotidiana.

Eu me pego a refletir sobre eles, discutindo-os com amigos que também conhecem tão bem este estado de espírito como eu e anseio com louvor pela a próxima vez que eu poderei arrumar as bolsas, pegar a estrada, e encontrá-lo novamente. Eu acredito que é por isso que eu rodo.

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