Enquanto Rosa Parks fazia sua histórica viagem de ônibus, e enquanto o Dr. Martin Luther King Jr, Malcolm X e Huey P. Newton e os Panteras Negras lutavam bravamente por direitos iguais, o East Bay Dragons MC arriscou a vida e os membros, durante dias em que ser negro e pilotar uma Harley era um ato revolucionário.

Os East Bay Dragons de Oakland, Califórnia, foram fundados na década de 1950 como um clube de carros, sob a liderança de Tobie Gene Levingston, colega de Sonny Barger (membro fundador do Hells Angels), cujo principal objetivo era manter seus irmãos mais novos e amigos ocupados e longe de problemas. Em 1959, os carros tornaram-se motocicletas Harleys e Choppers e o clube de carros agora era um MC “fora da lei”, o East Bay Dragons, um dos primeiros do seu gênero.

Como Levingston lembrou em sua autobiografia de 2004, Soul on Bikes, a maioria das famílias nos anos 50 não podia se dar ao luxo de ter mais de um veículo. Então para um membro de um clube de carros viver remendando e participando de corridas com o único meio de transporte da casa era cada vez menos prático.

Então Levingston mudou o clube por inteiro, em 1959 ele o transformou em um grupo de motociclistas 100% negro e 100% Harley-Davidson. Afinal de contas, as motocicletas usadas podiam ser compradas por apenas 40 dólares e eram frequentemente “cortadas” (chopped) ou customizadas para as preferências de cada motociclista.

Os Dragons não foram o primeiro clube de motoqueiros afro-americanos. Muitos soldados haviam retornado da Segunda Guerra Mundial precisando de adrenalina e as motos ofereciam uma dose confiável. Obviamente, na época nem sempre era fácil comprar as motos, nem sempre a grana bastava: vários revendedores se recusavam a vender para minorias (negros).

Ainda assim, um número suficiente de caras negros conseguiram adquirir suas Harleys, e quando os Dragons finalmente começaram seu movimento, vários grupos da Califórnia já mostravam seus escudos nas ruas. Porém os East Bay Dragons estavam longe de ser um grupo comum: em contraste com os motociclistas “certinhos” que rodavam em suas motos carenadas ou cheias de acessórios como alforges e parabrisas, os membros dos Dragons obrigatoriamente rodavam em Harleys cruas, verdadeiras American Made Machines.

“A cor tinha menos significado do que o fato de todos eles eram motoqueiros”

Hell’s Angels e East Bay Dragons eram dois MCs que conviviam em paz apesar das diferenças.

Eles também não estavam longe de causar problemas. Mas não era bem a polícia que preocupava Levingston (como ele se lembra, afro-americanos dirigindo carros chamavam mais atenção da polícia do que os pilotavam motos). Foram os problemas territoriais com outros MCs que provocaram o maior agravamento. Um grupo branco apelidado de Black Crows divulgou que eles pretendiam roubar algumas motos dos Dragons. Uma sangrenta briga depois, a poeira baixou e os Dragons continuavam a rodar por onde queriam e, se alguém não gostasse, o problema era deles.

Ao contrário do Chosen Few, que convidava tanto bikers negros como brancos, os Dragons mantinham as portas fechadas para outras raças. Levingston acreditava que a comunidade precisava de um lugar para trocar ideias e desenvolver um vínculo.

Apesar dos Dragons ocuparem o mesmo imóvel em Oakland que os famosos Hell’s Angels, os clubes se davam bem. Levingston fez amizade com Sonny Barger (presidente dos Angels) e os dois tinham um rival comum: a polícia local. A cor tinha menos significado do que o fato de todos eles eram motoqueiros, um rótulo que rapidamente se tornava demonizado pela mídia.

Enquanto Barger já conhecia o interior da prisão de Folsom por mais de uma vez, Levingston estava comprometido em manter os Dragons longe do fórum. Ele insistia que todos os membros tivessem empregos e, ao contrário de alguns bikers da época, ele se recusava a colocar o clube acima da família.

Certa vez, quando percebeu um que um dos membros tentava fazer com que drogas circulassem dentro do grupo, ele fechou a sede do clube até que os mesmos caíssem fora. Outras vezes, era o problema que o encontrava: quando os Panteras Negras criaram ondas políticas radicais na década de 1960, os dois grupos eram frequentemente confundidos.

Ao longo dos anos, os Dragons mantiveram suas obrigações em dia, organizaram bailes e outros eventos – mesmo o clube nunca conseguindo evitar completamente a violência da cultura MC americana (um membro foi morto a tiros em 2011) –. Mas os Dragons continuam vivos: em 2014, o Conselho da Cidade de Oakland reconheceu os Dragons por seus 55 anos promovendo causas beneficentes e tendo um “registro longo e afeiçoado de serviços em prol da comunidade”.

Via MESSY NESSY e MENTAL FLOSS.

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